
Fomos à procura de mais três pessoas, dispostas a responder-nos a três perguntas. O tema, desta vez, é o que falta da época na Liga Portuguesa. Como de costume, temos um benfiquista, um portista e um sportinguista, ou se preferirem: temos João Alves, Renato Gonçalves e Rogério Casanova. Agora imaginem que eles entram os três num bar. É isto que têm a dizer.
1. O que achaste da época até agora? Quais foram surpresas e desilusões?
Rogério Casanova: Correu tal e qual como eu previ atempadamente no prefácio à última edição do meu livro Roteiros XII. Aliás, poucas coisas foram mais previsíveis do que esta época. Em Agosto passado, só um cego seria incapaz de perceber que as nossas melhores exibições esta época seriam contra Porto e Real Madrid, que as piores seriam contra Rio Ave, Nacional e Chaves, que íamos ser eliminados de uma competição por um gajo que há 4 anos foi candidato à presidência do clube, que o melhor em campo num jogo contra o Dortmund seria o Zeegelaar, que o Bruno César iria passar 45 minutos a lateral direito, que o Bryan Ruiz ia ser substituído por um holograma do Bryan Ruiz, ou que um jogador emprestado pelo Liverpool seria muito pior que um jogador emprestado ao Moreirense.
A única surpresa, para ser franco, foi o desempenho do Elias, de quem todos esperávamos grandes exibições que, misteriosamente, nunca aconteceram.
Renato Gonçalves: O campeonato português é sempre, mais ou menos, isto. Polémico, com poucos golos, excessivamente focado nos três grandes e pouco apelativo fora da órbita dos mesmos. Apesar disto, de destacar o ressurgimento de um Vitória de Guimarães forte, que é sempre uma boa notícia para a prova, os sinais encorajadores do Marítimo e a surpresa Chaves, uma equipa recém promovida, com uma ideia de jogo muito interessante. Em relação ao meu clube, o FC Porto, atendendo à aposta no treinador e à forma como o plantel foi construído, estar em 2º e nos oitavos da Liga dos Campeões, apesar de nada de extraordinário, é aceitável. Se falarmos do que fui habituado a esperar daquele clube, a conversa é outra…
João Alves: A época está a correr, sensivelmente, como esperado. Benfica a ir abaixo no último mês, a fazer lembrar as equipas de JJ, mas acho que a qualidade dos jogadores vai fazendo a diferença. O Porto, honestamente, acho que vai correr mal. São muitos jogos a ganhar quase sem querer, sem jogarem para isso. Acho que mais tarde ou mais cedo, vêm aí 2 ou 3 jogos sem ganhar. Quanto ao Sporting, só quem não vê nada de futebol pensaria que a época poderia correr bem. Acho que o tridente BdC-JJ-Octávio tem tudo para destruir um balneário.
A grande desilusão da época, para mim, é dos leões: Markovic. Era (ainda sou…) bastante fã do rapaz, e o que ele não fez no Sporting surpreendeu-me. Mas já tem feito uns bons jogos com o Marco Silva. Nas surpresas positivas, o Chaves, mas vamos ver como corre o resto do campeonato, com o rombo que levaram no mercado de Inverno. E o Welthon, do Paços.
2. A tabela vai mudar muito até ao fim ou os lugares já estão atribuídos?
RC: A única coisa que é possível afirmar, com algum grau de confiança, é que o Rio Ave, actualmente na 10ª posição, não vai terminar o campeonato na 10ª posição. Arriscaria que vai terminar o campeonato na 9ª posição, ou até mesmo na 11ª posição, mas esta 10ª posição na tabela é ilusória, insustentável, e obviamente não vai durar muito.
RG: Apesar da proximidade classificativa, considero o Benfica o grande favorito. O clube da Luz, fruto das suas inúmeras opções atacantes, é muito competente frente aos “pequenos” e, mesmo se nos jogos entre iguais essa superioridade seja discutível, na 1ª volta ganhou três e empatou no Dragão.
O terceiro lugar já não deve fugir ao Sporting, mas estou curioso como se vai desenrolar o resto da época para os lados de Alvalade e igualmente em Braga, onde a precipitação de Salvador, ao despedir Peseiro a 5 pontos da liderança, parece cada vez mais errada com o passar das jornadas.
Quanto à descida, o Tondela parece-me condenado e será acompanhado pelo Feirense.
JA: Acho que a classificação ainda vai mexer, a luta entre o 3º e 5º vai surpreender.
3. O que achaste do mercado de Inverno?
RC: O mercado de Inverno, como qualquer cerimónia sazonal, faz-se da repetição de pequenos ritos. A energia primordial do Duplo Pai do Universo flui das suas polaridades gémeas. A aurora chega, anunciando o novo Sol que vai germinar a vida latente no ventre telúrico. Regressam os emprestados, num nevoeiro de feromonas e incenso do Líbano. Os Geraldes multiplicam-se. Congregações de Druidas encenam nas montanhas o ritual ancestral conhecido como “A Devolução do Elias”. Acende-se uma pequena fogueira de internacionais sérvios. As trevas dão lugar à luz. O Leixões contrata alguém chamado Ocózias Nhaca para as camadas jovens. O Jorge Mendes sorri enigmaticamente no interior de um pentagrama de telemóveis. Começa um novo ciclo. No geral, creio que está tudo bem.
RG: Apesar de não ter reforçado as alas, a aposta Soares, mesmo que não dê mais nada a partir daqui, trouxe o condão de galvanizar equipa e adeptos e fazer de Jota uma opção válida para a ala. Quanto ao resto, o Sporting assumiu o Verão desastroso e limpou plantel, ao mesmo tempo que “jogou para a bancada”, indo recuperar jovens da formação que entusiasmam sempre os adeptos, especialmente os daquelas banda.
JA: Acho que o mercado foi muito “parado”, esperava uma venda do Jiménez para a China, mas não aconteceu. Parece que afinal há por lá pessoal que sabe de bola. Esperava a contratação de um oito a sério, por parte do Benfica. O Sporting limpou a casa para poupar dinheiro, mas nem isso consegue fazer bem, com os episódios ridículos dos miúdos que vieram de Setúbal. O Porto foi buscar um bom avançado para o campeonato português, tenho alguma curiosidade de ver o Soares a jogar na Europa.
Rogério Casanova é tradutor e escreve sobre o Sporting no Tribuna Expresso; também já passou pelo i, Público, Expresso e Ler. Renato Gonçalves é jornalista, com passagens por Record e no extraordinário A União, da Ilha Terceira. João Alves é lisboeta, benfiquista desde pequenino e tem como herói pessoal Isaías.











